Mi Buenos Aires Querido

Che Guevara

Ernesto Guevara Che Guevara

Líder político (1928-1967)

Ernesto Che Guevara foi um dos líderes políticos mais influentes da sua época, transformando-se no emblema do revolucionário latino-americano. No entanto, sua figura sempre gerou enorme controvérsia. Se por um lado sua atitude selvagem e romântica o torna um exemplo de rebeldia contra o sistema e de total entrega aos ideais socialistas, por outro lado questiona-se o uso da luta armada como método de liberação.


Biografia de Che Guevara

«Nasci na Argentina; não é um segredo para ninguém. Sou cubano e também sou argentino e, se não se ofendem as ilustríssimas senhorias da América Latina, me sinto tão patriota da América Latina, de qualquer país da América Latina, que no momento em que fosse necessário, estaria disposto a entregar minha vida pela liberação de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém, sem exigir nada, sem explorar ninguém.» (Fragmento de discurso na ONU, 1964)

Ernesto Guevara nasceu circunstancialmente na cidade argentina de Rosário no dia 14 de junho de 1928, mudando-se poucas semanas depois para a casa oficial da família em Buenos Aires. Seus pais, Ernesto Guevara Lynch e Celia de la Serna, eram ambos de origem aristocrática e juntos tiveram outros quatro filhos. Desde pequeno, o menino Ernesto sofria ataques de asma e, por recomendação médica, em 1932 a família se mudou para as serras da província argentina de Córdoba.

Estudou grande parte do ensino fundamental em casa com sua mãe. Na biblioteca da família encontrou obras de Marx, Engels e Lenin, com os quais se familiarizou em sua adolescência. Em 1948, Ernesto Guevara entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, motivado em primeiro lugar por sua própria doença e desenvolvendo logo um especial interesse pela lepra.

Che Guevara Alberto GranadoEm 1952, empreendeu uma jornada de sete meses com seu amigo Alberto Granado, passando pelo sul da Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela. A viagem incluiu visitas a minas de cobre, povoações indígenas e leprosários, representando uma vivência íntima e profunda das mazelas padecidas pelos povos da região, as quais Ernesto atribuía principalmente à onipresença do imperialismo norte-americano.

Regressou a Buenos Aires decidido a terminar a faculdade e em abril de 1953 recebeu o diploma de médico. Em julho do mesmo ano, iniciou sua segunda viagem pela América Latina, que o levou a Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Guatemala, onde terminou se instalando por alguns meses. A cada passo, Ernesto Guevara ia reafirmando sua mente revolucionária e anti-imperialista, ao mesmo tempo em que começava a se engajar em diversos movimentos contestatários.

Na Guatemala conheceu Hilda Gadea, com quem se casou e de cuja união nasceu sua primeira filha. Foi também nessa época quando recebeu o apelido de “Che” devido ao uso frequente desse vocativo característico da Argentina.

Convencido de que a revolução era a única solução possível para acabar com as injustiças sociais existentes na América Latina, em 1954 Ernesto Che Guevara marchou rumo ao México. Lá se uniu ao movimento integrado por revolucionários cubanos seguidores de Fidel Castro, incluindo seu irmão Raúl Castro e os guerrilheiros Camilo Cienfuegos e Juan Almeida.

Fidel Castro Che GuevaraEm 1958, Fidel e os guerrilheiros invadiram Cuba. Che os acompanhou, primeiro como doutor e logo assumindo o comando do exército revolucionário. No dia 1 de janeiro de 1959, as tropas rebeldes derrubaram o regime do ditador pró-Estados Unidos Fulgencio Batista. Foi o triunfo da Revolução Cubana e o começo de uma nova era para a ilha.

A partir de então, Ernesto Che Guevara recebeu a nacionalidade cubana e se transformou na mão direita de Fidel Castro no novo governo de Cuba. Foi nomeado Presidente do Banco Nacional e posteriormente Ministro da Indústria. Desempenhava simultaneamente outras tarefas diversas, de caráter militar, político e diplomático.

Em 1959 casou-se, em segundas núpcias, com sua companheira de luta Aleida March, com quem teve mais quatro filhos. Visitaram juntos vários países comunistas da Europa Oriental e da Ásia.

Oposto energicamente à influência norte-americana no Terceiro Mundo, a presença de Che Guevara foi decisiva na configuração do regime de Fidel e na aproximação cubana ao bloco comunista, abandonando os tradicionais laços que tinham unido Cuba e Estados Unidos.

Ernesto Guevara Che GuevaraEm 1962, após uma conferência no Uruguai, Che voltou à Argentina e também visitou o Brasil. Posteriormente, viajou a vários países africanos. No Congo, se uniu à luta dos revolucionários antibelgas, levando uma força de 120 cubanos. Após diversas batalhas, terminaram derrotados em 1965. A partir de então, foi relevado de seus cargos no Estado cubano e deixou de aparecer em atividades públicas.

No ano seguinte, Ernesto Che Guevara preparou uma missão secreta na Bolívia com a ilusão de levar ao resto da América Latina, especialmente à Argentina, a experiência da revolução socialista cubana. A tentativa finalmente se frustrou, resultando em sua captura pelo exército boliviano em colaboração com a CIA. Foi executado no fatídico dia 9 de outubro de 1967, aos 39 anos. Seu cadáver permaneceu oculto por três décadas, e em 1997 foi localizado e levado a Cuba para ser enterrado em um grande mausoléu.


Pensamento de Che Guevara

Ernesto Che Guevara foi antes de mais nada um revolucionário prático, mas também chegou a desenvolver diferentes teorias sobre a revolução social que pretendia levar aos países do Terceiro Mundo. Suas ideias estão expostas em livros e escritos como “A guerra de guerrilhas” (1960), “O socialismo e o homem em Cuba” (1965) e “Mensagem aos povos do mundo” (1967), embora a maioria de seus textos permaneçam inéditos. Do diário que foi escrevendo durante toda a sua vida, foi publicada de forma póstuma a parte referente à guerrilha boliviana: “Diário do Che na Bolívia” (1968).

O pensamento de Che Guevara se baseou nas premissas fundamentais do marxismo-leninismo, trazendo ao mesmo tempo uma contribuição teórica original. Atribuía um papel fundamental à luta armada, considerada a única via possível para liberar os povos da opressão capitalista-imperialista. Além disso, acreditava que um pequeno foco guerrilheiro era capaz de gerar as condições necessárias para desencadear uma grande insurreição popular. Do mesmo modo, reconhecia um vínculo estreito entre a guerrilha, os camponeses e a reforma agrária. Essa posição o diferenciou do socialismo soviético, mais voltado à clase operária industrial, e o aproximou ao maoísmo.

Por outro lado, o pensamento filosófico do Che resgatava valores como o amor pelos povos e pela humanidade. Nesse aspecto, elaborou o conceito de “homem novo”, ao que enxergava como um indivíduo fortemente movido por uma ética pessoal que o impulsiona à solidariedade e ao bem comum sem necessidade de incentivos materiais.

As ideias de Che Guevara tiveram uma profunda influência em movimentos sociais, sindicais e de liberação do mundo todo, incluindo o Maio Francês de 1968 e as guerrilhas de esquerda na América Latina.

Discurso na Assembleia Geral da ONU (1964)


Frases de Che Guevara

A seguir, apresentamos algumas das frases mais emblemáticas escritas, pronunciadas ou atribuídas ao Che:

Luta

«Até a vitória, sempre!»

 

«Pátria ou morte!»

 

«Toda a nossa ação é um grito de guerra contra o imperialismo e um clamor pela unidade dos povos contra o grande inimigo do gênero humano: os Estados Unidos da América do Norte.»

 

«O povo norte-americano não só não é culpado da barbárie e da injustiça de seus governantes, como também é vítima inocente da ira de todos os povos do mundo que confundem, por vezes, um sistema social com um povo.»

 

«Criar dois, três… muitos Vietnam, esse é o lema.»

 

«Fusilamos e continuaremos fusilando enquanto for necessário […]. Nossa luta é uma luta até a morte.»

 

«Devemos ser o pesadelo daqueles que pretendem arrebatar nossos sonhos.»

 

«Fique sereno e aponte bem. Você vai matar um homem!»

Ernesto Guevara Che Guevara, Raul Castro, Antonio Nunez Jimenez, Juan Almeida, Ramiro Valdes - 1959

Valores

«É preciso endurecer sem jamais perder a ternura.»

 

«Deixe-me lhe dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que o revolucionário verdadeiro é guiado por grandes sentimentos de amor.»

 

«Que culpa tenho eu se meu sangue é vermelho e meu coração fica à esquerda?»

 

«[…] Se você for capaz de tremer de indignação toda vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros […].»

 

«A Terra precisa de pessoas que trabalhem mais e critiquem menos, que construam mais e destruam menos, que prometam menos e resolvam mais, que esperem receber menos e dar mais, que digam melhor agora do que amanhã.»

 

«O socialismo econômico sem a moral comunista não me interessa. Lutamos contra a miséria mas ao mesmo tempo lutamos contra a alienação.»

 

«Só existe uma coisa maior do que o amor pela liberdade: o ódio por quem tira ela de você.»

 

«Sonha e serás livre no espírito, luta e serás livre na vida.»

Ernesto Guevara Che Guevara Habano Charuto


Homenagens a Che Guevara

Na Argentina

Por ser um personagem polêmico, quase não existem homenagens oficiais a Ernesto Che Guevara em seu país de origem. No entanto, sua figura é recordada em diversos lugares que foram parte de sua história.

Villa Nydia – Museu Casa em Alta Gracia  (Avellaneda 501, Alta Gracia, Província de Córdoba) A casa conhecida como “Villa Nydia”, na cidade serrana de Alta Gracia, foi onde o jovem Ernesto Guevara viveu durante 11 anos. O museu exibe objetos e recordações de família.

La Pastera – Museu em San Martín de los Andes (Rudecindo Roca e Sarmiento, San Martín de los Andes, Província de Neuquén) O refúgio onde Che Guevara e seu amigo Alberto Granado dormiram em 1952 durante sua viagem em moto pela Patagônia inspirou a criação deste museu, cujo acervo é principalmente gráfico e digital.

Museu Parque Provincial Ernesto Che Guevara (Caraguatay, Província de Misiones) Trata-se de un parque de 23 hectares próximo ao rio Paraná que inclui um museu, uma biblioteca, um auditório e um bar em memória do Che, situados em uma das casas de sua infância.

Museu Che Guevara em Buenos Aires (Rojas 129, Caballito, Cidade de Buenos Aires) O denominado “museu” é na verdade uma iniciativa pessoal de um velho fã da figura do Che e consiste em uma pitoresca coleção de imagens e objetos relacionados ao líder guerrilheiro.

Monumento ao Che Guevara em Rosário (Parque Yrigoyen, Av. Leandro N. Alem e Rueda, Rosário, Província de Santa Fe) A estátua do Che em sua cidade natal só se tornou realidade em 2008, graças à contribuição de milhares de pessoas de diversos países que doaram chaves e outros objetos de bronze para sua realização pelo escultor Andrés Zerneri.

Em Cuba

Na ilha caribenha que o adotou, o Comandante Che Guevara tem status de herói nacional.

Mausoléu do Che Guevara em Santa Clara  Os restos do Che descansam desde 1997 no mausoléu do “Memorial Comandante Ernesto Che Guevara” da cidade cubana de Santa Clara, localizada 300 km ao leste da capital Havana. O complexo também inclui uma grande estátua em bronze do Che, um museu e uma “chama eterna” acesa por Fidel Castro em sua memória.

Praça da Revolução em Havana (Plaza de la Revolución, Vedado, La Habana)  Na fachada do Ministério do Interior localizado nessa praça de Havana fica um enorme mural em aço com o rosto de Ernesto Che Guevara. A obra foi criada pelo artista Enrique Ávila e nela pode-se apreciar a célebre frase atribuída ao Che: “Hasta la victoria, siempre“.

Centro de Estudos Che Guevara (Calle 47 No. 772. Plaza de la Revolución, La Habana) O centro foi criado em 1983 com a missão de pesquisar e divulgar a vida, obra e pensamento do Che às atuais e futuras gerações. Foi fundado por sua viúva, Aleida March, na antiga casa que Che Guevara ocupou de 1962 até sua partida ao Congo.

Museu da Revolução em Havana (Refugio No.1 entre Avenida de las Misiones e Zulueta, La Habana Vieja) O museu possui uma sala memorial dedicada aos comandantes Che Guevara e Camilo Cienfuegos, representados ambos em estátuas de cera.

Na Bolívia

La Ruta del Che  Trata-se de um circuito turístico que propõe seguir a rota de Che Guevara na Bolívia até o lugar onde foi fusilado em 1967. O percurso se estende por 800 km e inclui museus nos municípios de Lagunillas, La Higuera e Vallegrande. A iniciativa nasceu da comunidade guarani que habita a região e conta com o apoio do Governo da Bolívia.

Internacional

Ernesto Guevara Che Guevara - Guerrillero Heroico por Alberto Korda

Fotografia  O famoso retrato que o fotógrafo cubano Alberto Korda tirou de Che Guevara em março de 1960 é uma das imagens mais reproduzidas do mundo. Em 1968, o artista irlandés Jim Fitzpatrick transformou a foto em um perfil com o contorno do rosto do Che, criando um verdadeiro ícone do movimiento contracultural.

Poesia  Entre os poemas mais célebres dedicados a Ernesto Che Guevara merecem destaque “Yo tuve un hermano” (1967), do argentino Julio Cortázar, e “Tristeza en la muerte de un héroe” (1969), do chileno Pablo Neruda.

Música  “Hasta siempre (Comandante Che Guevara)”, composta pelo cubano Carlos Puebla em 1965 com motivo da partida do Che ao Congo, é a canção mais famosa feita em sua homenagem. Também se tornou um clássico da música latino-americana, possuindo mais de 200 versões.

Cinema  A história de Che Guevara serviu de inspiração para vários filmes, entre os que se destaca “Diários de motocicleta” (2004) do diretor brasileiro Walter Salles, com o mexicano Gael García Bernal interpretando o Che e com parte da trilha sonora a cargo do argentino Gustavo Santaolalla. Também teve grande repercussão o filme “Che, o argentino” (2008) do diretor americano Steven Soderbergh, com o porto-riquenho Benicio del Toro no papel principal.


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