A música de Ástor Piazzolla é, sem dúvida, uma das maiores expressões artísticas que a Argentina deu ao mundo. Incorporando ao tango tradicional recursos da música clássica e do jazz, Piazzolla conseguiu um resultado formidável e extremamente inovador, sofisticando esse ritmo portenho e revolucionando para sempre seus conceitos.
O que acontece comigo é que quando conseguem me entender eu já estou mudando. Foi assim a vida inteira.
Ástor Pantaleón Piazzolla nasceu em 11 de março de 1921 na cidade argentina de Mar del Plata, tendo sido filho único de um casal de imigrantes italianos. Em 1925, a família se radicou em Nova York, onde permaneceria por mais de uma década. Ástor se envolveu com a música desde cedo: aos 8 anos ganhou de seu pai seu primeiro bandoneón e aos 9 começou a estudar música clássica com um pianista húngaro.
Aos 14 anos, teve um encontro mágico com Carlos Gardel, ao participar como extra no filme “El Día que me Quieras”. O pequeno bandoneonista chegou a ser convidado para integrar a nova turnê de Gardel, mas seus pais não o autorizaram. Meses depois, Gardel e sua equipe viriam a falecer em um acidente de avião.
Em 1937, a família Piazzolla retornou definitivamente a Mar del Plata, onde Astor fez suas primeiras apresentações. Porém, sua carreira começou verdadeiramente quando decidiu se mudar a Buenos Aires e conseguiu ser contratado em 1939 como bandoneonista na orquestra do maestro Aníbal Troilo, apresentando-se em muitos cabarets da cidade.
Apesar da amizade e da confiança estabelecidas com Troilo, ao completar 23 anos Piazzolla sentiu a necessidade de se afastar do tango para evoluir musicalmente. A partir de então, se tornou aluno do eminente músico clássico argentino Alberto Ginastera e começou a compor uma série de peças eruditas. Suas maiores influências foram Bach e Stravinsky.
Em 1952, ganhou uma bolsa do governo francês para estudar com a legendária Nadia Boulanger, quem o incentivou a seguir seu próprio estilo. Em 1955, de volta a casa, Ástor forma o Octeto Buenos Aires. Sua seleção de músicos termina delineando arranjos atrevidos e timbres pouco habituais para o tango, como a introdução de guitarra.
A presença de Piazzolla gerou receios, inveja e admiração entre a comunidade tangueira. Sua música foi alvo de fortes críticas e chamá-la de tango era visto como uma grande afronta. Ironicamente, ele chegou a denominar seu estilo de “música popular contemporânea da cidade de Buenos Aires”. Mas isso não era tudo: Ástor provocava a todos com sua vestimenta informal, com sua pose para tocar o bandoneón (de pé, quando a tradição era sentado) e com declarações que mais pareciam desafios.
A formação preferida dos anos seguintes foi o quinteto. Se bem estava longe de ser massivo, com Adiós Nonino, Decarísimo e La muerte del ángel começou a trilhar um caminho de sucesso que teria picos na musicalização de poemas de Jorge Luis Borges (1965), na composição da ópera-tango María de Buenos Aires (1968) e da canção Balada para un Loco (1969) junto ao poeta Horacio Ferrer, na colaboração com o saxofonista Gerry Mulligan (1974) e em concertos memoráveis no Philarmonic Hall de Nova York (1965) e no Teatro Colón de Buenos Aires (1972 e 1983), entre outros.
Ástor Piazzolla deixou como legado a enorme influência de seu inconfundível estilo, além de uma extensa obra que abrange centenas de composições registradas em cerca de cinquenta LPs. Entre seus discos fundamentais, destacam-se: Astor Piazzolla y su Orquesta Típica (1946-1948), Octeto Buenos Aires (1955), El Tango (1965, com poemas de Jorge Luis Borges), María de Buenos Aires (1968), Libertango (1974) e The Central Park Concert (1987).
A obra-prima de Ástor, segundo sua própria opinião, foi Adiós Nonino, um emotivo réquiem escrito em 1959 em memória à morte de seu pai, a quem chamava carinhosamente de Nonino (vô em italiano).
Entre suas composições mais célebres também se encontram Libertango, Fuga y misterio, Decarísimo, Milonga del ángel, La muerte del ángel, Balada para un loco, Oblivion, Buenos Aires hora cero, além de peças representando as quatro estações portenhas.
Piazzolla compôs 44 trilhas sonoras entre 1949 e 1987, tanto para filmes da Europa como da América Latina. Entre eles, destacam-se: Toda nudez será castigada de Arnaldo Jabor (Brasil, 1973), Il pleut sur Santiago de Helvio Soto (França/Bulgária, 1975), Lumière de Jeanne Moreau (França, 1976), Armaguedon de Alain Jessua (França, 1977), Enrico IV de Marco Bellocchio (Itália, 1984) e Tangos – El exilio de Gardel de Fernando “Pino” Solanas (Argentina/França, 1985). A música de Piazzolla também foi incluída de modo póstumo em uma produção de Hollywood, o filme Os 12 macacos de Terry Gilliam (EUA, 1995).
Quando estiver em Buenos Aires, conheça o melhor da obra de Ástor assistindo a um grandioso musical no teatro Piazzolla Tango!
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