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Arte e cultura da Argentina

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A Argentina é um importante polo cultural, com reconhecido prestígio e grandes representantes nas mais diversas formas de expressão artística. Conheça abaixo um pouco mais sobre as principais características da cultura argentina:

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Música argentina

Tango

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A origem do tango data do final do século XIX, produto de uma mistura de vários ritmos provenientes dos subúrbios de Buenos Aires e de cidades do outro lado do Río de la Plata, no Uruguai. Esteve associado desde sua origem com bordéis e cabarés, âmbito de contenção da população imigrante massivamente masculina. Não passou muito tempo até que o tango se estendesse também aos bairros proletários e logo passasse a ser aceito “nas melhores famílias”, principalmente depois que a dança teve sucesso na Europa.

A melodia provinha de flauta, violino e violão, sendo que a flauta foi posteriormente substituída pelo bandoneón (espécie de sanfona). Os imigrantes acrescentaram ainda todo o seu ar nostálgico e melancólico e, desse modo, o tango foi se desenvolvendo e adquirindo um sabor único. Simultaneamente, uma linguagem paralela ia se formando dessa mistura de raças e ritmos, o denominado lunfardo.

Carlos Gardel foi o primeiro grande divulgador do tango no exterior, alcançando enorme repercussão no começo da década de 1930. Depois de alguns anos de esquecimento fora da Argentina, o interesse pelo gênero ressurgiu graças a Ástor Piazzolla, quem lhe deu uma perspectiva totalmente inovadora. O tango também deve muito aos grandes mestres e suas orquestras brilhantes, evocando nomes como Aníbal Troilo, Homero Manzi, Enrique Santos Discépolo, Osvaldo Pugliese, Mariano Mores, entre tantos outros.

Hoje em dia, o tango ocupa um lugar de honra no coração de argentinos de diversas gerações. Com epicentro em Buenos Aires, as referências a esse ritmo estão presentes em luxuosos, tradicionais ou modernos shows de tango e milongas, em canais de TV e em rádios, em sapatarias especializadas, em cursos para todos os níveis, na música eletrônica e, enfim, na constante reinvenção do tango.

No mundo, o ritmo tem adeptos fervorosos que vão do vizinho Brasil até o remoto Japão, o que se comprova no Campeonato Mundial de Tango que é disputado todo ano em Buenos Aires. Em 2009, o tango foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Rock Nacional

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O rock argentino, chamado localmente de rock nacional, é um dos gêneros mais populares na Argentina desde seu surgimento na década de 1960. Foi um dos primeiros em ser cantado em um idioma que não fosse o inglês e alcançou um enorme prestígio e popularidade em todos os países de língua espanhola.

A categoria rock nacional engloba, na verdade, estilos diversos que vão além do clássico rock com profusão de guitarras, podendo remontar também a baladas ou ao pop mais tradicional. Justamente, os primeiros representantes de sucesso internacional foram os cantores Sandro, conhecido como o Elvis Presley latino e melhor identificado por suas músicas românticas e sentimentais, e Palito Ortega, com seu amplo repertório de canções alegres e emotivas.

O rock propriamente dito veio de bandas fundacionais como Manal, Los Gatos, Arco Íris, Vox Dei, Almendra e Sui Generis. Dessa primeira geração emergiram alguns dos maiores músicos do país como Luis Alberto Spinetta, Charly García, Nito Mestre, Lito Nebbia e Gustavo Santaolalla. Foram grupos com elaborada composição musical e letras de intensa poesia. Paralelamente a esse movimento central, foram se formando outros grandes artistas como Pappo, Fito Páez, León Gieco e Pedro Aznar, entre outros.

Nos anos 1980 e 1990, o rock argentino continuou fazendo grande sucesso internacional, impulsado pelo power trio Soda Stereo e também por bandas como Sumo, Virus, Los Abuelos de la Nada, Los Redondos e Los Rodríguez. Mais uma vez, brilharam os nomes detrás das bandas (em ordem): Gustavo Cerati, Luca Prodan, Federico Moura, Miguel Abuelo, Carlos “Indio” Solari e Andrés Calamaro.

Nas últimas décadas, o rock nacional se ressentiu da separação de grandes bandas e da morte de várias de suas figuras legendárias, tornando-se mais atomizado e direcionado a públicos específicos. O rock tradicional continua se expressando em grupos como Divididos, Attaque 77 e La Renga. Ao mesmo tempo, tomou forma uma corrente indie com bandas de pop rock e alternativas como Babasónicos, Bersuit Vergarabat e Catupecu Machu.

Folclore

O folclore é uma categoria musical mais representativa da cultura argentina tradicional e da vida de campo. O que se chama genericamente de folklore inclui na verdade diversos subgêneros próprios de cada região do país, como chamamé, chacareras, zambas, carnavalitos. Seus principais expoentes foram ou são Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Horacio Guarany, Jaime Torres, “Chango” Spasiuk, Los Chalchaleros, Soledad Pastorutti, entre outros.

Cumbia e cuarteto

Também são muito escutados no país gêneros de origem popular como o cuarteto, oriundo da província de Córdoba, e a cumbia, nascida nos bairros mais humildes. Pelo ritmo animado e os refrões repetitivos, esses estilos são considerados a música ideal para dançar em boates e festas, independentemente da classe social.

Reggae

O reggae também é um gênero musical bastante popular na Argentina, com presença no país desde meados dos anos 1980. As primeiras versões locais vieram de grupos de rock como Sumo e Los Abuelos de la Nada, passando por estilos mais comerciais como Los Pericos e finalmente chegando ao reggae atual representado por bandas como Los Cafres, Nompalidece, Dread Mar-I, entre outras.

Playlist com o melhor da música argentina

Cortesia Hermanos – Abraço Cultural


Cinema argentino

Reconhecimento e prêmios

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O cinema argentino é altamente prolífico e um dos principais expoentes da cultura argentina devido ao seu grande renome internacional. Além disso, a Argentina é o país da América Latina com mais salas por habitante, muitas das quais são utilizadas para prestigiar a produção local que, por sua vez, usufrui de amplo apoio estatal. Os principais festivais de cinema são o Festival Internacional de Cine de Mar del Plata e o Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente (“Bafici”).

Os únicos dois filmes latino-americanos premiados até hoje com um Oscar de melhor filme estrangeiro foram argentinos: A História Oficial (em 1986) e O Segredo dos Seus Olhos (em 2010). Além disso, diretores, roteiristas e músicos argentinos ganharam estatuetas do Oscar em suas respectivas categorias. O cinema argentino conquistou muitos outros prêmios internacionais, especialmente nos festivais de Goya, na Espanha, e de Berlim, na Alemanha.

Prêmios Oscar entregues a argentinos
AnoCategoriaFilmePremiado
1986Melhor filme estrangeiroA História Oficial (Argentina)Luis Puenzo
1995Melhor direção artísticaO Outro Lado da Nobreza (EUA/Inglaterra)Eugenio Zanetti
1996Melhor trilha sonoraO Carteiro e o Poeta (Itália/França)Luis Bacalov
2006Melhor trilha sonoraO Segredo de Brokeback Mountain (EUA/Canada)Gustavo Santaolalla
2007Melhor trilha sonoraBabel (EUA/México/Japão)Gustavo Santaolalla
2010Melhor filme estrangeiroO Segredo dos Seus Olhos (Argentina)Juan José Campanella
2015Melhor roteiro originalBirdman (EUA)Armando Bo e Nicolás Giacobone
Breve história do cinema argentino

A etapa clássica do cinema argentino teve origem com os primeiros filmes sonoros surgidos na década de 1930. Foi marcada por comédias e dramas musicais com estrelas de projeção internacional como Carlos Gardel, Tita Merello, Libertad Lamarque e Niní Marshall. Em meados da década de 1940, a produção local entrou em um longo período de crise devido à competição da indústria cinematográfica americana e mexicana. Apesar disso, filmes como Dios se lo pague (1948) e La Casa del Ángel (1957) tiveram excelente repercussão.

A década de 1960 marcou uma nova etapa de criatividade e prestígio, com a produção de filmes experimentais e dos primeiros documentários. Merece destaque o drama Crónica de un Niño Solo (1965), de Leonardo Favio, considerado o melhor filme da história do cinema argentino. De um ponto de vista mais popular, predominaram musicais interpretados por cantores de sucesso e também o cinema erótico de Armando Bo protagonizado pela icônica Isabel “La Coca” Sarli.

A censura presente em boa parte das décadas de 1970 e 1980 dificultou o surgimento de filmes de qualidade, marcando o predomínio de comédias populares sem conteúdo crítico. Notáveis exceções foram La Patagonia Rebelde (1974) e Plata Dulce (1982). Com o fim da ditadura militar em 1984, o período recém terminado se tornou tema predominante em muitas produções, como no caso do premiado La Historia Oficial (1985). Alguns dos atores mais importantes da época foram Federico Luppi, Norma Aleandro e Héctor Alterio.

Os anos 1990 marcaram o surgimento do Novo Cinema Argentino, renovado e enriquecido a partir de diversas coproduções com outros países, especialmente com a Espanha. Alguns dos melhores filmes desde então foram Caballos Salvajes (1995), Martín Hache (1997), Pizza, Birra y Faso (1998), Nueve Reinas (2000), El Hijo de la Novia (2001), Luna de Avellaneda (2004), Tiempo de Valientes (2005), El Secreto de Sus Ojos (2009), Relatos Salvajes (2014), El Clan (2015), entre vários outros. Ricardo Darín é sem dúvidas o ator mais requisitado de sua geração. Também se destacam grandes atores como Leonardo Sbaraglia, Diego Peretti, Darío Grandinetti ou Cecilia Roth.

Filmes argentinos mais vistos no Brasil (2005-2015)


Teatro argentino

A Argentina possui uma vigorosa comunidade teatral, fazendo de Buenos Aires uma das cidades com maior oferta de peças do mundo. O eixo central é a clássica Avenida Corrientes, com seus inúmeros teatros, mas também se destaca o magnífico Teatro Colón, um dos melhores recintos líricos do planeta e lugar que viu crescer grandes bailarinos como Julio Bocca, Eleonora Cassano e Maximiliano Guerra.

Os espetáculos disponíveis na cidade passam por textos under de baixo orçamento, versões de clássicos atemporais do teatro, até adaptações de grandes comédias musicais ao melhor estilo Broadway. Além do teatro tradicional, o teatro de revistas continua mais vivo do que nunca na Argentina, com seus comediantes e suas esculturais vedettes cobrindo muito pouco com plumas e paetês. Os monólogos, e mais recentemente os stand-ups, também são de grande relevância, inspirados na comédia de costumes americana e em grandes referentes locais como Tato Bores, Alejandro Dolina, Enrique Pinti e Antonio Gasalla.

Nos meses de verão as principais peças são levadas a cidades turísticas como Mar del Plata, na província de Buenos Aires, e Villa Carlos Paz, na província de Córdoba, para que o público possa continuar se entretendo também nas férias.

Menção aparte merece o grupo Les Luthiers, um clássico da cultura argentina que desde a década de 1960 apresenta espetáculos de humor parodiando o universo da música erudita e de diversos outros estilos musicais. O nome luthier se deve a que muitas vezes utilizam instrumentos criados por eles próprios a partir de materiais pouco convencionais.


Literatura argentina

A obra mais emblemática da literatura argentina, e também do gênero gauchesco regional, é o Martín Fierro. Trata-se de um poema narrativo escrito por José Hernández em 1872 e 1879, o qual descreve o caráter independente, heroico e sacrificado do gaúcho. O livro foi traduzido a mais de 50 idiomas e tem a peculiaridade de ter sido escrito em espanhol inculto, para refletir a forma de falar típica dos pampas.

Durante o século XX, a cultura argentina em geral foi se tornando cada vez mais heterogênea devido à forte influência de diversas correntes artísticas europeias. Nesse contexto surge gênio ímpar de Jorge Luis Borges, considerado um dos principais escritores da literatura ocidental de todos os tempos. Seu fantástico mundo de ficção literária, com abundância de labirintos, bibliotecas e referências eruditas, ficou imortalizado em prosa, poesia e nos contos de livros como “O Aleph“, “Ficções” e “O Jardim de Caminhos que se Bifurcam”.

Vários outros autores contemporâneos se destacaram em diferentes gêneros, como Julio Cortázar (autor do romance interativo Rayuela, ou “O Jogo da Amarelinha” em português), Adolfo Bioy Casares (La invención de Morel), Victoria Ocampo (Testimonios), Ernesto Sábato (El Túnel), Roberto Arlt (Los siete locos), para citar alguns.


Histórias em quadrinhos argentinas

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A Argentina é um país de grande tradição nos chamados comics ou historietas. Esse gênero teve seu auge entre os anos 1930 e 1980, mas continua sendo bastante popular na atualidade. O personagem mais reconhecido internacionalmente é a menina Mafalda (1964-73), uma simpática criação do cartunista Quino que contém ao mesmo tempo uma inteligente crítica social.

Antes do sucesso de Mafalda, o mais clássico comic local era El Eternauta (1957-59), uma série de 3 livros escritos por Héctor Oesterheld e ilustrados por Francisco Solano López que conta sobre uma invasão extraterrestre ocorrendo em plena cidade de Buenos Aires. Outros personagens tradicionais são Patoruzú (1929) e Isidoro Cañones (1935), de Dante Quinterno, o primeiro um virtuoso cacique patagônico e o segundo um bon vivant portenho; Hijitus (1955) de Manuel García Ferré, um menino super-herói; e Inodoro Pereyra (1972), de Roberto Fontanarrosa, um gaúcho solitário e malandro, entre outros.

Na atualidade, os quadrinhos argentinos continuam bem representados nos traços de cartunistas como Liniers (Macanudo), Maitena (Mulheres Alteradas), Caloi (Clemente) e seu filho Tute (Batu), Sendra (Matías), Nik (Gaturro), entre outros.


Pintura argentina

Os primeiros grandes movimentos de artes plásticas com características próprias do país ocorreram na década de 1910, à medida que a cultura argentina se fortalecia graças a uma maior liberdade política da população. Figuras de destaque nesse campo foram Antonio Berni, Xul Solar, Benito Quinquela Martín, Héctor Basaldúa, Raúl Soldi, León Ferrari e Florencio Molina Campos. Uma das artistas plásticas mais populares da Argentina é Marta Minujín, quem desde os anos 1960 produz obras irreverentes, de caráter efêmero e conceitual.

Na categoria arte popular, vale a pena destacar o fileteado portenho (ou filete portenho) como uma das expressões artísticas que melhor representam a cultura argentina, em particular a da cidade de Buenos Aires. Trata-se de uma técnica de arte decorativa nascida a princípios do século XX como forma de adornar as carrocerias de diferentes veículos. O fileteado utiliza elementos vintage do desenho e da pintura, incluindo imagens e textos enfeitados com flores, fitas, bolinhas, além de linhas retas, curvas e espirais de diferente espessura. O fileteado portenho foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 2015, uns anos após o tango ter recebido o mesmo reconhecimento.

Fileteado porteño - Mi Buenos Aires Querido


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